A vida não é literatura e no entanto sou capaz de relê-la. Revisitar páginas escritas não apenas por mim, mas por todos que fizeram parte desse emaranhado de encontros. Viver é negócio muito perigoso, já dizia o da metáfora do sertão. Mas a vida não é sertão. É deserto. Um deserto atravessado por multidões. A vida é caminhar no meio do nada, sem saber se esse sol que queima existe de verdade ou se não passa de uma piada. A vida é estar sempre sozinho, porque somente eu sou capaz de sentir as minhas emoções. A vida é esse emaranhado de encontros que no final resultam apenas em egoísmo e desespero. A vida é a utopia da imortalidade. A vida é engano. É enganar-se a si próprio. É pensar que todos somos um quando na verdade sou apenas mais um. Ninguém é capaz de sentir o que posso sentir. Ninguém é capaz de pensar o que eu posso pensar. Ninguém é capaz de viver o que eu posso viver. E ninguém é capaz de morrer a minha vida, porque ela é só minha. A vida é deserto, porque o emaranhado de encontros não torna o findar desse deserto menos solitário. Todos iremos só.