quinta-feira, 29 de maio de 2008

Tudo se transforma

Só somos desconhecidos antes do primeiro encontro. Depois podemos nos tornar íntimos. Ou talvez não. Ouvi dizer certa vez que estando próximos vamos nos adequando ao crescimento do outro, e em alguma parte nos tornamos parecidos, nos modificamos mutuamente. Mas assim, estando agora distantes, será que cresceremos e nos modificaremos cada um em um sentido, sem nada ter em comum no final? E quando é o final? Já nem sei mais se há começo. Tudo acontece tão rápido que mal dá tempo de fazermos nossos planos e já somos obrigados a desmoronar nossos castelos de areia. Pode ser que sua torre fique muito alta e eu não consiga mais escalar. Pode ser que a minha torre fique muito alta e você perca o ânimo de subir. Pode ser. Tudo pode ser. A cada segundo tudo se modifica. E já não somos os mesmos. Queria poder crescer ao seu lado, mas acho que não posso mais nem te ver crescer. Quando nos encontrarmos, espero te reconhecer. Espero que ainda guarde um pouco da essência que me encantou. E espero que ela ainda me encante. Espero reconhecer em você uma mínima parte do que esperei que dividisse comigo.

segunda-feira, 19 de maio de 2008

corredores

São tantas coisas. E ainda assim são poucas. Já nem sei se você se lembra. Parece não lembrar, parece não sentir. Parece que pra você tudo é pouco. Você pensa que solidão é a ausência física, e não consegue enxergar que a solidão é a ausência de afeto. Você pensa que não precisa de ninguém ao seu lado, e não enxerga que alguém pode ficar ao seu lado incondicionalmente, em silêncio. Você não percebe que estar perto não é estar presente. Você não percebe que estar presente não é estar perto. Você não consegue fechar os olhos e continuar enxergando. Você não pára pra sentir o vento. Você não pára pra perceber que mesmo que você tente afastar as pessoas de você, algumas continuam ali. Você não consegue me ver ao seu lado. Você tem medo. E eu tenho tanta coisa. Eu tenho dor. A mesma dor com que viajei a última vez pra te ver. Eu tenho amor. O mesmo amor que me fez viajar com dor a última vez que te vi. E eu tenho medo. Eu tenho medo da vida. Eu tenho medo da morte. Eu tenho medo de quando tiver medo da vida e da morte não ter seus braços que me faziam esquecer por longos instantes vida, morte, tudo! Eu tenho medo. Medo de você se esquecer de mim. Medo de você se perder. Medo de me perder de você. Eu tenho saudade. Saudade de te encontrar depois de uma ausência física de longo tempo. Eu tenho ansiedade. A mesma de quando estava pra chegar até onde você mora e te ver me esperando com aqueles olhos que guardam toda a beleza do mundo. Eu tenho mágoa. Mágoa de significar tão pouco na vida de alguém. Eu tenho raiva. Raiva de não ter coragem de te dizer o que sinto. Raiva de não ter coragem de fazer você sofrer. Mas você tem. Você consegue me fazer sofrer. E eu nunca pensei que pudesse. Como poderia pensar? Aqueles braços que me abraçavam seriam então capazes? Aquela boca de onde vieram tantos beijos seria capaz de me dizer palavras duras? Aqueles olhos que paralisavam quando me viam teriam então vontade de nunca mais me ver refletido em suas retinas? Eu perdi a voz. Queria gritar o seu nome, mas ele não sai. Não chega até a boca porque não consegue sair do coração. E o coração já não tem mais força pra seguir batendo. Bate, porque é músculo involuntário, porque tem que bater, porque é destino dele, como um dia eu fui o seu. O seu destino. E eu ainda sinto tanta coisa. Sinto muito. E sinto a sua dor, porque quando a sua alma está triste, triste também está a minha. Você não consegue enxergar de olhos fechados. Você não consegue me ver nos seus pensamentos. Você não consegue sentir calor se não fogo. Você não consegue ver o sol que está se abrindo quando já vai terminando a chuva. Você pensa que quando a correnteza se faz forte te tomam os remos, e não é capaz de enxergar que os braços que te tomaram os remos o fizeram pra remar pra você. E você rema sozinho. E vai continuar remando sozinho. Sozinho até perceber que num cantinho qualquer do barco, você deixou alguém que não teve coragem suficiente pra fazer seu barco virar.

sexta-feira, 2 de maio de 2008

Madrugada alta.

Tudo lá fora vai tão calmo. A chuva cai sensível com suas gotas graciosas. O frio entra tímido pelas frestas das janelas. Já não há muitas luzes acesas. Há um barulho de silêncio que se pode ouvir mesmo com a música que a chuva produz. O ar explode em cores diversas mesmo com o negro da noite. Serão os sonhos? Os travesseiros ouvem os mais íntimos segredos. Os cobertores acolhem o calor que emana dos sonhos talvez proibidos. O vento sussurra palavras que arrepiam as cortinas. O pêndulo do relógio balança no seu gingado tentando acordar a vida ausente. É madrugada alta. As folhas vão caindo e dando à rua um tapete acinzentado. E o mundo se prepara para uma vez mais acordar seus frágeis visitantes.