quinta-feira, 31 de março de 2011
O Ano da Morte de Ricardo Reis - José Saramago.
Sábio é o que se contenta com o espetáculo do mundo. Essa frase de Ricardo Reis define esse interessante personagem que ganha vida nas bem escritas letras de Saramago. O Ano da Morte de Ricardo Reis é um romance ousado, que propõe um pacto ficcional interessantíssimo, em que criador e criatura se encontram em um mundo que só é possível no universo das palavras. Criador é Fernando Pessoa, Ricardo Reis é seu heterônimo, mas a maneira como Saramago brinca com essa sutileza faz com que ambos possam existir de maneira autêntica dentro do universo ficcional. Ricardo Reis, depois de seu exílio no Brasil, volta a Portugal, e ao encontrar um país marcado por conflitos internos e externos, se põe a apreciar o espetáculo do mundo. Na sua prosa poética, Saramago tece reflexões sobre política, sobre literatura, sobre o cotidiano, sobre a vida. Solitário, recebendo visitas ocasionais de Lídia, uma criada de um hotel, da menina Marcenda, por quem se apaixona, e de ninguém menos que Fernando Pessoa, Ricardo Reis reflete a condição do homem no mundo. Romance ao melhor estilo de Saramago.
terça-feira, 8 de março de 2011
Orgulho e Preconceito - Jane Austen.
Uma das principais obras do classicismo inglês, Orgulho e Preconceito, de Jane Austen, é uma obra tão rica que fica difícil esgotá-la em apenas uma resenha de impressões de leitura. Um jovem chega a uma pequena cidade e logo desperta a curiosidade e o interesse das moças e das famílias que pretendem arranjar um bom casamento para suas filhas solteiras. O enredo é perfeito para que se desenrole uma história de amor. No entanto, o leitor se surpreende quando as histórias de amor são apresentadas sem aquelas exacerbações típicas desse tipo de história. A racionalidade dos personagens, além de garantir sua caracterização, confere um objetivismo à obra que não permite que ela se atrase ou se perca, pelo contrário, a torna dinâmica não deixando o leitor largar o livro. Jane Austen nos apresenta um retrato da sociedade daquele tempo, com jovens endinheirados e a mediocridade da vida que levavam, com jantares, bailes, passeios, chás, e o preconceito que mantinha as diferenças de classes bem marcadas. Talvez a construção dos personagens seja o que mais mereça destaque nessa obra de Jane. Mr. Bennet, chefe de uma família com cinco moças, nos poucos diálogos que trava ao longo da obra, tem a ironia sempre (ou quase sempre) presente. Como Mr. Bennet, os demais personagens (princpipalmente os protagonistas Elizabeth e Mr. Darcy) são construídos a partir de suas falas. Não há grandes detalhes do narrador sobre suas personalidades, ao invés disso, são os próprios personagens que se constroem, a medida em que vão travando conversações ao longo das mais de 400 páginas do livro. Eles mesmos se apresentam, se definem, por suas falas e por suas atitudes. As situações vão se descortinando aos poucos, os personagens vão se construindo a partir de suas ações, e a obra a cada página se torna mais interessante. Tão interessante que o cinema a levou para as telas.
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