sexta-feira, 19 de junho de 2009

Adeus

Olho para dentro de mim e o que enxergo? Bondade. Foi esse o sentimento que mais aprendi com você ao longo de toda essa nossa caminhada juntos. O ser humano mais generoso que já vi, sempre disposto a tirar a roupa do próprio corpo em auxílio ao próximo. Você foi um homem bom. Mais do que isso, você foi um pai bom. A nossa relação foi sim um tanto conturbada, mas havia tanto amor envolvido, e nós sabíamos disso, nós dois. Eu posso não ter sido o filho que você quis que eu fosse, mas me tornei o homem que a vida quis que eu me tornasse graças a você. E olho para mim e o que vejo? Você. E fica tão difícil te dizer adeus. Fica difícil porque você pulsa aqui dentro. Porque trago mais de você do que eu podia supor. O nosso jeito rude de demonstrar afeto nos privou de dizer algumas palavras um ao outro, mas elas não eram necessárias. Eu sabia do seu amor por mim cada vez que você saía de casa pra me apanhar no Clube. Cada vez que, ainda criança, eu deitava no seu colo pra ouvir ursinho pimpão. A cada gesto seu eu consegui enxergar amor, bondade. E sei que você também sabia do meu amor por você. Se resta alguma dúvida, de onde quer que você esteja, olhe para mim, pra dentro de mim, meu sentimento por você é parte da minha anatomia.
A caminhada foi difícil, né pai? Mas eu sei que toda vez que você pensou em desistir, ao olhar pro lado você conseguia enxergar a sua família. Nós, mais do que quaisquer outras pessoas, amamos muito você. Você soube, à sua maneira, construir uma história de amor. E ela é tão linda pai. Falem o que falar, ficamos juntos até o fim. E digam o que disserem, eu sei que ainda não é o fim. Ao apertar pela última vez sua mão, fizemos um acordo, sem palavras, como fizemos sempre. Um acordo de nos encontrarmos ainda . A saudade vai machucar pai. Machucar com uma intensidade como nunca nada me machucou. E quando ela machucar, eu vou olhar pra dentro de mim e te enxergar ali. Ningúem se vai enquanto houver alguém que queria lembrá-los. É dessa forma que eu vou te manter vivo. Você viverá em mim, até o último dia da minha existência, e nesse dia, apertarei a sua mão novamente, como da última vez, dessa vez pra continuarmos essa linda história de amor (sim,de amor) que começamos.
Eu te amo, pai.