domingo, 27 de fevereiro de 2011

Laços de Família - Clarice Lispector.


A escrita de Clarice Lispector é densa. Talvez por isso, a primeira vez que li Laços de Família (e era a primeira vez que lia Clarice) achei o livro confuso e entediante. Talvez porque o que marca a escrita de Clarice é exatamente essa subjetividade, essa imersão do narrador no íntimo do personagem. Suas estórias não apresentam um grande enredo, ao invés disso o narrador desvenda o interior do personagem, apresentando suas reflexões, seus dilemas, seus dramas, seus questionamentos, sua existência conflituosa. Apesar de seu vocabulário simples, Clarice nos leva por caminhos inquietantes, capazes de nos proporcionar momentos de epifania. Neste livro de contos, os detalhes do cotidiano são desmascarados e revelados sob o olhar atento da escritora.

sábado, 26 de fevereiro de 2011

A Viuvinha - José de Alencar.


O amor e o dinheiro são os ingredientes básicos para os chamados romances urbanos de José de Alencar. A vida da sociedade carioca da metade do século XIX é retratada pela pena do romancista em diversos títulos. Acredito que todos já leram ao menos um dos chamados romances urbanos de Alencar, ainda que tenha sido nos tempos de escola. Alencar nos mostra em seus romances urbanos uma classe caracterizada pelo ócio. O amor surge como pretexto para a ruptura dessa pasmaceira de vida da classe média. Em A Viuvinha essas características aparecem muito claramente. Embora seja um romance de entretenimento, podemos ler uma crítica a essa classe ociosa. O dinheiro e o amor permeiam o enredo, tecem conflitos. Não havendo esses dois ingrediente, não há história, e a vida dos protagonistas cai na banalidade. Em poucas linhas, Alencar pinta a elite de uma sociedade ainda em formação. Leitura interessante.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

A fúria do corpo - João Gilberto Noll.


Sempre que eu ler João Gilberto Noll me lembrarei de um professor que eu adorava na faculdade. Segundo esse professor, Noll pode ser considerado um dos melhores escritores brasileiros da atualidade. Afirmação justa. Já li e reli Noll, e sempre a leitura me prende como se fosse a primeira vez. Tudo na literatura dele é diferente, nada é definido e nada é definitivo. Em A Fúria do Corpo, o personagem que se recusa a dizer seu nome nos convida a percorrer com ele as ruas de um Rio de Janeiro que não o mostrado nas novelas da Rede Globo. No entanto não se trata de uma literatura de crítica social, do tipo literatura engajada. Trata-se da condição do ser humano, essa condição de errante, de estar sempre indo para algum lugar, e ainda assim, com essa sensação de estar sempre perdido. Noll nos prova que se pode fazer literatura (e boa literatura) sem grandes argumentos, afinal, estamos diante de um personagem sem nome, confuso, que mal sabe quem ele é. Um personagem que vaga, divaga, e sujeita o seu corpo às mais diversas situações. Corpo e alma compõe esse personagem que, mesmo sem nome, é de uma complexidade fascinante. O corpo em sua fúria desvenda a natureza humana. Corpo que justamente por não ter nome, pode ser de qualquer um de nós. Corpo que fala, e usa de uma linguagem capaz de chocar o leitor acostumado a uma literatura mais domesticada. Em A Fúria do Corpo, João Gilberto Noll rompe alguns padrões estéticos da literatura, e trabalha uma escrita que consegue expressar a fúria em que se encontra o corpo do narrador. O texto de Noll dentro do panorama da literatura nacional é inovador. Noll brinca com alguns conceitos como a verossimilhança, brinca com a palavra, com a composição dos personagens, e brinca com a literatura, de maneira séria, inteligente e eletrizante.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

La Casa Verde - Mario Vargas Llosa.


Lembro da minha primeira leitura de Mario Vargas Llosa. Foi La ciudad y los Perros, e juro que nas primeiras dez páginas eu queria jogar o livro longe, mas como precisava ler para uma disciplina na faculdade, continuei, e ao final da leitura, o livro entrou pra minha lista de livros preferidos. Depois disso eu pensei que seria difícil me surpreender com algum outro livro do Vargas Llosa, e esperei dois anos para ler La Casa Verde. Livro longo, difícil, demorado, mas com os mesmos encantos do outro que eu havia lido anteriormente. Vargas Llosa é um escritor peruano, um dos nomes mais importantes do chamado boom da literatura latinoamericana, ao lado de García Márquez, de Carlos Fuentes, de Cortázar e de tantos outros. Seu estilo é único, particular. No caso de La Casa Verde (como também é em La Ciudad y losPerros), a obra toda é um quebra-cabeça, cheia de pequenas partes que funcionam como peças, e somente juntando essas peças é que se pode ter uma ideia ampla do enredo. A leitura exige um leitor inteligente e atento. As vozes de diversos personagens se entrelaçam, tendo como pano de fundo a história da Casa Verde, um prostíbulo que muda a vida da cidade e de seus habitantes. Assim como em La Ciudad y los Perros, a leitura começa difícil, até um tanto chata, mas vale a pena superar as primeiras páginas pra começar o interesse pelo livro. Uma história bonita não só pelo seu argumento, que a meu ver é fantástico, mas também pela escrita, pela maneira única que Vargas Llosa tem de narra uma estória. Literatura inteligente, desafiadora, inovadora. Literatura feita por quem sabe fazer. É por isso que Vargas Llosa entra agora para minha lista de escritores preferidos.
Observação: aos interessados, existe tradução em português.