terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Memorial do Convento - José Saramago.


Algumas estórias são como fotografias que a mente congela. De tão intensas nos ficam gravadas imagens das cenas que nos são sugeridas imaginar. Não é segredo que sou fã de Saramago e da sua escrita fascinante, mas tietagem a parte, ele é um dos escritores que mais consegue que eu fotografe algumas das cenas de livros em minha mente. Se para mim A Caverna é declaradamente o seu romance de que mais gosto, é Memorial do Convento a obra que mais me apresenta imagens dignas de se gravar. A construção do convento é para mim mais heroico do que a guerra de Troia. A imagem daquela pedra descomunal tendo que ser transportada seguramente desafia qualquer diretor de cinema. E o que dizer da passarola nas duas vezes em que ela ganha o céu? E de Blimunda que recebe Baltazar entre as palhas da manjedoura, ou ainda, a imagem mais marcante, quando na fogueira da maldita inquisição queima um homem com um gancho no lugar da mão esquerda? Não menos desesperador é Blimunda a procurar por seu homem, e o espigão que atravessa a costela do padre devasso. Memorial do Convento é para mim uma sucessão de imagens que vão se sobrepondo ao longo do romance, e que incomodam, perturbam, fascinam. É para mim um romance que jamais deve virar filme, porque acredito que ninguém seria capaz de captar a beleza (sim, há beleza no trágico) das imagens que imaginei.