domingo, 7 de dezembro de 2008

Receita

De repente você sente que está inspirado. Certamente influência das leituras que anda fazendo. E pensa que pode continuar aquela história que começou e que nunca conseguiu continuar por achar seu texto por demais pretensioso. De repente você se sente capaz. Se não capaz, pelo menos sente que pode esboçar alguma coisa e ver no que vai dar. Tenta encher-se de algo que não tem nome, ou que alguns diriam ser inspiração, outros talento, outros sabe-se lá o que, e despeja na folha branca toneladas de sensações adormecidas e possíveis. Seria isso ou há algo mais? Haveria algum segredo, desses que as mães passam para as filhas de geração em geração? Há alguma receita a ser seguida? Ou é apenas isso, palavras e mais palavras sobre espaços vazios?

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Tudo se confunde

Não. Escrever não é fácil. Pode ser qualquer coisa, menos fácil. E acredito que quanto mais o tempo vai passando, mais difícil vai ficando. Já agora não sei como continuar. Não sei se coloco uma vírgula, não sei se um ponto, não sei se começo tudo de novo, não sei se desisto de vez e apago a luz. Escrever é como a vida. A vida também não é fácil. Pode ser qualquer coisa, menos fácil. E acredito que quanto mais o tempo vai passando, mais difícil vai ficando. Já agora não sei como continuar. De um lado há tudo o que já foi escrito. De outro lado há tudo o que ainda há por escrever. E tudo se confunde. Não sei se começo de novo o texto ou a vida. Já não sei mais do que falo. Viver e escrever é negócio muito perigoso, já dizia mais ou menos assim o poeta sertanejo. Não é fácil, e se não é fácil, porque é que eu insisto tanto em continuar tentando ao invés de apagar de vez a luz?

domingo, 24 de agosto de 2008

construção

O ser humano é o que ele aprende a ser. Mas o que será que eu aprendi? Não gosto de literatura porque é algo inato em mim. Gosto porque aprendi a gostar, porque enxerguei nela possibilidades que de certa forma faziam (e ainda fazem) com que esse mundo real, cru, e cruel, se tornasse mais poético pra mim. Não sou esse ser romântico porque é algo inato em mim, ou porque Júpiter está desalinhado, ou por qualquer baboseira astrológica dessas. Sou romântico porque aprendi a ser assim, porque acreditar num mundo possível, desses que existem nas páginas dos livros e nas telas do cinema, faz com que o mundo seja mais suave. Aprendi a ser o que sou. Não nasci assim, não nasci pré-disposto a nada. Nasci vazio. E tudo o que hoje transborda em mim é fruto do que me ensinaram a ser.

domingo, 10 de agosto de 2008

infinito e eterno

Não quero acreditar que o homem é um acidente biológico ou evolutivo. Mas também não quero aceitar que estamos condenados a vagar pela eternidade. Não quero viver muito, nem pra sempre, mas também não quero viver tão pouco. Não quero estar em outros universos, cosmos e galáxias, mas não quero ser somente esse acidente evolutivo incapaz de nada diante da imensidão de tudo. Não quero só passar pela vida e pelo tempo, mas também não quero que o tempo seja infinito pra mim. Não sei se quero saber e entender a vida, ou se quero apenas enxergá-la passar, se acabar, dia a dia, nessa grandiosidade infinita dos fatos e do tempo. Não sei o que sou, nem o que irei me tornar. E não sei se viver faz algum sentido. Deve fazer? Ou é apenas um acidente biológico?

domingo, 6 de julho de 2008

Legado

Não quero dar uma de Machado de Assis em “Memórias Póstumas de Braz Cubas”, mas tenho sentido nos últimos dias muito intensamente o legado da miséria da nossa existência humana. E isso tem me incomodado. Me incomodado a ponto de me deixar realmente mal. Me incomodado a ponto de me fazer perder o sono e acordar suando frio madrugada alta. Todos compartilhamos dessa miséria existencial humana, no entanto alguns são capazes de passar pela vida sem se dar conta dela. Queria ser uma dessas pessoas. Mas não sou. A literatura me estragou, o alcoolismo me estragou, a vida me estragou. E me vejo sem chão, me vejo rodeado de sensações que não são passíveis de definições. Sinto medo. E sequer posso lutar contra esse medo pois não sei de onde ele vem, nem pra onde vai me levar. Sempre ouvi dizer (de mim mesmo) que a linha entre a normalidade e a loucura é muito tênue, e há que ter cuidado em não ultrapassá-la. E estou realmente desesperado, pois sinto que falta muito pouco pra que essa linha acabe comigo. Mas com que intenção escrevi isso tudo? Como um grito de socorro? Um desabafo? Uma tentativa de algo? Ou com as mesmas intenções do Braz Cubas... Tentar fazer enxergar o legado da nossa mísera existência humana? Quem vai saber...

quinta-feira, 29 de maio de 2008

Tudo se transforma

Só somos desconhecidos antes do primeiro encontro. Depois podemos nos tornar íntimos. Ou talvez não. Ouvi dizer certa vez que estando próximos vamos nos adequando ao crescimento do outro, e em alguma parte nos tornamos parecidos, nos modificamos mutuamente. Mas assim, estando agora distantes, será que cresceremos e nos modificaremos cada um em um sentido, sem nada ter em comum no final? E quando é o final? Já nem sei mais se há começo. Tudo acontece tão rápido que mal dá tempo de fazermos nossos planos e já somos obrigados a desmoronar nossos castelos de areia. Pode ser que sua torre fique muito alta e eu não consiga mais escalar. Pode ser que a minha torre fique muito alta e você perca o ânimo de subir. Pode ser. Tudo pode ser. A cada segundo tudo se modifica. E já não somos os mesmos. Queria poder crescer ao seu lado, mas acho que não posso mais nem te ver crescer. Quando nos encontrarmos, espero te reconhecer. Espero que ainda guarde um pouco da essência que me encantou. E espero que ela ainda me encante. Espero reconhecer em você uma mínima parte do que esperei que dividisse comigo.

segunda-feira, 19 de maio de 2008

corredores

São tantas coisas. E ainda assim são poucas. Já nem sei se você se lembra. Parece não lembrar, parece não sentir. Parece que pra você tudo é pouco. Você pensa que solidão é a ausência física, e não consegue enxergar que a solidão é a ausência de afeto. Você pensa que não precisa de ninguém ao seu lado, e não enxerga que alguém pode ficar ao seu lado incondicionalmente, em silêncio. Você não percebe que estar perto não é estar presente. Você não percebe que estar presente não é estar perto. Você não consegue fechar os olhos e continuar enxergando. Você não pára pra sentir o vento. Você não pára pra perceber que mesmo que você tente afastar as pessoas de você, algumas continuam ali. Você não consegue me ver ao seu lado. Você tem medo. E eu tenho tanta coisa. Eu tenho dor. A mesma dor com que viajei a última vez pra te ver. Eu tenho amor. O mesmo amor que me fez viajar com dor a última vez que te vi. E eu tenho medo. Eu tenho medo da vida. Eu tenho medo da morte. Eu tenho medo de quando tiver medo da vida e da morte não ter seus braços que me faziam esquecer por longos instantes vida, morte, tudo! Eu tenho medo. Medo de você se esquecer de mim. Medo de você se perder. Medo de me perder de você. Eu tenho saudade. Saudade de te encontrar depois de uma ausência física de longo tempo. Eu tenho ansiedade. A mesma de quando estava pra chegar até onde você mora e te ver me esperando com aqueles olhos que guardam toda a beleza do mundo. Eu tenho mágoa. Mágoa de significar tão pouco na vida de alguém. Eu tenho raiva. Raiva de não ter coragem de te dizer o que sinto. Raiva de não ter coragem de fazer você sofrer. Mas você tem. Você consegue me fazer sofrer. E eu nunca pensei que pudesse. Como poderia pensar? Aqueles braços que me abraçavam seriam então capazes? Aquela boca de onde vieram tantos beijos seria capaz de me dizer palavras duras? Aqueles olhos que paralisavam quando me viam teriam então vontade de nunca mais me ver refletido em suas retinas? Eu perdi a voz. Queria gritar o seu nome, mas ele não sai. Não chega até a boca porque não consegue sair do coração. E o coração já não tem mais força pra seguir batendo. Bate, porque é músculo involuntário, porque tem que bater, porque é destino dele, como um dia eu fui o seu. O seu destino. E eu ainda sinto tanta coisa. Sinto muito. E sinto a sua dor, porque quando a sua alma está triste, triste também está a minha. Você não consegue enxergar de olhos fechados. Você não consegue me ver nos seus pensamentos. Você não consegue sentir calor se não fogo. Você não consegue ver o sol que está se abrindo quando já vai terminando a chuva. Você pensa que quando a correnteza se faz forte te tomam os remos, e não é capaz de enxergar que os braços que te tomaram os remos o fizeram pra remar pra você. E você rema sozinho. E vai continuar remando sozinho. Sozinho até perceber que num cantinho qualquer do barco, você deixou alguém que não teve coragem suficiente pra fazer seu barco virar.

sexta-feira, 2 de maio de 2008

Madrugada alta.

Tudo lá fora vai tão calmo. A chuva cai sensível com suas gotas graciosas. O frio entra tímido pelas frestas das janelas. Já não há muitas luzes acesas. Há um barulho de silêncio que se pode ouvir mesmo com a música que a chuva produz. O ar explode em cores diversas mesmo com o negro da noite. Serão os sonhos? Os travesseiros ouvem os mais íntimos segredos. Os cobertores acolhem o calor que emana dos sonhos talvez proibidos. O vento sussurra palavras que arrepiam as cortinas. O pêndulo do relógio balança no seu gingado tentando acordar a vida ausente. É madrugada alta. As folhas vão caindo e dando à rua um tapete acinzentado. E o mundo se prepara para uma vez mais acordar seus frágeis visitantes.

sábado, 12 de abril de 2008

Folha em branco


Sinto como que uma necessidade em escrever. Não porque me tenha passado algo, ou porque esteja entediado. É simplesmente uma vontade que vem. E não há um assunto específico. Não preciso escrever sobre a condição de minha natureza humana, sobre a enfermidade que me acomete, sobre os dilemas que começaram a se passar em minha cabeça, nem sobre toda a sorte de dúvidas que me tem rondado e deixado indeciso. Não preciso escrever sobre isso porque não é sobre isso que quero escrever. Queria fazer um texto descomprometido. Sem autor, sem dono. Um texto que pudesse ser de qualquer um. Tanto meu como de uma criança contando como foram suas férias. Um texto sem coerência, sem coesão. Um texto até sem palavras. Um texto sem compromisso de ser texto. Queria escrever arte. Fazer arte. Escrever algo pra que ninguém lesse. Tenho pra mim que é dessa maneira que nascem os melhores textos.

domingo, 16 de março de 2008

Travessia


A vida não é literatura e no entanto sou capaz de relê-la. Revisitar páginas escritas não apenas por mim, mas por todos que fizeram parte desse emaranhado de encontros. Viver é negócio muito perigoso, já dizia o da metáfora do sertão. Mas a vida não é sertão. É deserto. Um deserto atravessado por multidões. A vida é caminhar no meio do nada, sem saber se esse sol que queima existe de verdade ou se não passa de uma piada. A vida é estar sempre sozinho, porque somente eu sou capaz de sentir as minhas emoções. A vida é esse emaranhado de encontros que no final resultam apenas em egoísmo e desespero. A vida é a utopia da imortalidade. A vida é engano. É enganar-se a si próprio. É pensar que todos somos um quando na verdade sou apenas mais um. Ninguém é capaz de sentir o que posso sentir. Ninguém é capaz de pensar o que eu posso pensar. Ninguém é capaz de viver o que eu posso viver. E ninguém é capaz de morrer a minha vida, porque ela é só minha. A vida é deserto, porque o emaranhado de encontros não torna o findar desse deserto menos solitário. Todos iremos só.

sábado, 1 de março de 2008

De como os pensamentos carecem de uma organização.

Um amontoado de pensamentos que transitam de um lado pro outro sem ocupar um lugar real no espaço mas capaz de me fazer sentir uma dor que se não é de todo física é pelo menos insistente a ponto de incomodar como um texto ausente de pontuação. Mas eis que surge o ponto. Ponto. Ponto final.

domingo, 17 de fevereiro de 2008

The book is on the table

Aposto que você já ouviu que uma das coisas fundamentais que uma pessoa precisa fazer antes de morrer é escrever um livro. Acho tal afirmação no mínimo imbecil. No mínimo. Primeiro porque hoje as pessoas não sabem o que dizer. Na verdade elas não sabem quase nada. O pouco de conhecimento que elas têm é cultura inútil. Mas essa afirmação é também imbecil porque as pessoas já não lêem. O impacto da revolução pop, na segunda metade do século XX, foi aos poucos substituindo o texto escrito pela imagem visual. O princípio da cultura pop é a visibilidade total. Por isso você vê esse exagero de fotos um tanto apelativas, eu diria, em alguns sites da internet (sim, me refiro ao fotolog). As pessoas já não têm o que dizer, então elas se mostram. Corpos, caras e bocas invadem as telas dos computadores buscando um espaço, buscando 15 minutos de fama. Alguns conseguem até um pouco mais. Mas isso é tudo o que elas têm pra oferecer. Imagem. Apenas a imagem. Elas sequer se dão ao trabalho de ler o texto de algum amigo em um desses sites (sim, ainda me refiro ao fotolog). E por que você acha que uma pessoa dessas deveria escrever um livro? Antes de morrer ela precisaria nascer de novo. E escrever pra que, se já não há quem leia? Ainda assim, as livrarias estão cheias de papéis em que tudo o que se tem impresso neles são bobagens. Bobagens, porque é isto o que a cultura pop cria: imbecis. Então, ao invés de tentar escrever um livro, vá plantar uma árvore. O planeta agradece.

domingo, 10 de fevereiro de 2008

Abri os olhos.

O que sinto por você eu jamais senti antes. Nunca tive problemas em escrever, e agora não consigo materializar uma palavra sequer pra expressar minhas emoções. Nunca fui dado a ciúmes, e agora não consigo suportar o fato de saber que você pode se interessar por outra pessoa. Nunca fui dado a choros constantes, e agora me pego chorando todos os dias de saudades de você. Nunca me imaginei longe da minha terra, e agora me vejo disposto a arder no inferno se for pra estar contigo. Nunca imaginei que o amor pudesse machucar quando fosse correspondido, e agora sinto essa dor em saber que tenho você mas que está longe de mim. Nunca pensei em mudar minha vida por alguém, e agora me pego fazendo coisas simplesmente pra não te desagradar. Nunca pensei que eu pudesse gostar de telefonemas, e agora passo horas esperando que meu celular toque. Nunca pensei que alguém pudesse transformar com tamanha intensidade a vida de outra pessoa. Nunca pensei que pudesse enxergar o amor, mas graças a você eu: ABRI OS OLHOS.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Velhas histórias.

Algumas histórias demoram a serem digeridas. Como um romance que você lê, que te acompanhou por tanto tempo, e que de repente acaba, te deixando sem respostas. E aquela história fica martelando dias na sua cabeça. Algumas histórias são assim. Algumas histórias incomodam. São insistentes. Não são chatas, não são tediosas, mas não te deixam em paz. Você tenta expulsá-las de dentro de você colocando-as num pedaço de papel, ou desabafando pra alguém, ou desabafando pra si mesmo debaixo do chuveiro. Mas elas insistem em não te deixar. Você sabe que um dia elas irão embora. Talvez quando você já esteja acostumado a elas, elas se despeçam. Como tudo na vida. E quando esse dia chegar, que descansem em paz. Que descansem aquelas que não deixaram você descansar.

domingo, 27 de janeiro de 2008

Tudo novo de novo.

Letras mal escritas. Nome familiar. Nome que me acompanhou por 3 anos nos meus mais diversos momentos. Mas sempre é hora de mudar, de trocar de ares, de inovar. E aqui estou, tentando o Letras mal escritas agora em outro lugar. Sim, o nome do blog é jogada de marketing de um estudante de Letras pouco pretensioso, mas que não julga seus escritos tão ruins assim. Na verdade a parte de pouco pretensioso também é jogada de marketing. Nunca me preocupei com opinião alheia. Sou movido pela minha própria. E a minha opinião em relação aos meus escritos tem me bastado. Não aspiro a nada, quero apenas poder escrever, continuar escrevendo. E que essas palavras, à princípio desconexas e sem nenhum sentido, quem sabe encontrem algum receptor que as decodifiquem. Tudo bem, se essa última frase lhe pareceu familiar, vide Paulo Henriques Britto. Agora com licença, eu quero escrever as minhas próprias letras.