sábado, 8 de setembro de 2012

Não é a toa que Virgínia Woolf é umas das mais importantes escritoras inglesas. A sensibilidade com que ela escreve é apaixonante. Ela transporta para o papel uma gama de sentimentos humanos que até podem ser épicos, mas são antes de tudo corriqueiros, sentimentos nossos do dia-a-dia. Por meio do discurso indireto livre, ousamos penetrar os pensamentos mais secretos das personagens sensíveis que ela soube construir. Essa sensibilidade extrema está presente da primeira a última página de Os anos (The years). Nesse romance, embora ela nos presenteie com uma diversidade enorme de personagens, o grande protagonista é mesmo o tempo. O passar dos anos e o olhar reflexivo das personagens sobre a vida, sobre o mundo, sobre Londres, sobre a guerra, sobre os costumes, sobre moda, sobre a modernidade, sobre tudo que faz parte da vida humana parece resumir a essência dessa obra. O que é a vida senão as lembranças que carregamos conosco? Esse romance nos chama a atenção para as situações corriqueiras, pois é delas, mais do que de quaisquer outras, que é feita a vida. São desses pequenos momentos do cotidiano que se alimenta o passar dos anos. Penúltimo romance de Virgínia, Os anos permanece atual, cheio de significados, comunicando a cada letra, a cada palavra, a cada frase, a cada página. Leitura obrigatória para quem gosta de sentir aquela inquietação gostosa
que a arte é capaz de proporcionar.

sexta-feira, 29 de abril de 2011

O Processo - Franz Kafka


O Processo, de Kafka, é um dos maiores romances do século XX. Mas desta vez o labirinto kafkiano não me despertou grandes interesses. Não sei, mas nao gostei.

sábado, 23 de abril de 2011

Boquitas Pintadas - Manuel Puig


A literatura hispano-americana é famosa por sua inovação no estilo de narrar. Quem já leu algo de Gabriel García Márquez, de Mario Vargas Llosa ou de Julio Cortázar sabe do que estou falando. No entanto, nenhuma narrativa até hoje me pareceu mais interessante do que a do argentino Manuel Puig em Boquitas Pintadas. Nesse romance a ausência do narrador é quase que total. Quase pode-se dizer que não há um narrador, o que há é um organizador que coloca em ordem uma série de gêneros da linguagem e que na sua totalidade compõe a obra e a tornam compreensível. Trata-se de cartas, de documentos de polícia, de documentos de hospitais, e de diálogos que não sofrem interferência alguma do narrador. O narrador não se intromete na estória, não emite opinião, não interfere em nada, apenas reúne uma série de informações que dão conta de mostrar uma estória de crime e paixão. Um experimento linguístico muito bem elaborado. Com Boquitas Pintadas Manuel Puig consegue mostrar uma maneira inteligente e interessante de se fazer literatura.

domingo, 17 de abril de 2011

Dom Casmurro - Machado de Assis.


Pela quinta vez eu percorro as páginas do livro que ocupa o primeiro lugar no ranking dos livros de que mais gosto: Dom Casmurro, de Machado de Assis. Como muito já foi escrito sobre a estória de Bento Santiago e Capitolina, me proponho a escrever sobre por que alguém lê um mesmo livro pela quinta vez. Logo no início do livro, o narrador Bento Santiago justifica os motivos que o fazem por a pena na mão. Segundo Bentinho, a intenção em escrever o livro era unir as duas pontas de sua vida, o presente e o passado, já que todas suas tentativas para tal foram frustradas. Resumindo, Bento escreve para relembrar. E para relembrar também eu percorro uma vez mais as páginas do nosso solitário narrador. Ao avançar pelas páginas de Dom Casmurro, histórias minhas vão saindo das palavras lidas, imagens avivam-se em minha mente, como quando Bento vê reviverem em sua mente estórias e pessoas ao ler depois de moço o Panegírico de Santa Mônica. Não sei se me fiz entender. Explico-me. Ao ler Dom Casmurro pela quinta vez, as outras quatro leituras me vêm à mente. Lembro-me de quando ganhei o livro e da primeira vez que o li, ainda em Porto Alegre. Lembro-me também das duas leituras que fiz para disciplinas da faculdade, e pessoas esquecidas e abandonadas em algum lugar qualquer da minha mente reaparecem: professores, alunos, corredores, anfiteatros. Cada leitura de Dom Casmurro, além de ser mais uma leitura do livro que me fascina, é a leitura de mim, das partes da minha vida que gosto de reviver, de relembrar, partes da vida que tenho a intenção de unir. Não só de palavras estão feitos os livros, eles também são capazes de carregar e guardar consigo uma infinidade de sensações que provamos nas leituras. Quando pela sexta vez eu tornar a ler Dom Casmurro, me lembrarei das demais leituras, das situações em que cada uma delas foram feitas, e com Bento Santiago, não apenas reviverei seus dilemas e sua estória, estarei também eu unindo as pontas da minha vida.

domingo, 10 de abril de 2011

A insustentável leveza do ser - Milan Kundera.


Para mim, mais difícil do que uma leitura pouco prazerosa é ter de escrever sobre uma leitura pouco prazerosa. Sempre ouvi falar muito bem de A Insustentável Leveza do Ser, de Milan Kundera, e não sei se devido a isso, fui cheio de expectativas ao ler a obra mas o sentimento que experimentei foi de frustração. Não que a estória seja ruim. Mas me pareceu uma literatura muito panfletária. O autor quer dar conta de um momento histórico crucial para seu país, e acaba fazendo da literatura um canal para expurgar seus demônios. Sei que Milan Kundera é romancista e pensador de renome internacional, mas por vezes, o romance parece interessar mais à História do que à Literatura. Descrições chatas sobre fatos históricos se misturam a opinião do narrador sobre esses fatos. Por vezes tem-se a sensação de estar lendo um livro de filosofia, ou de história crítica. A estória de Tereza, Tomas, Sabina e Franz parece apenas um pretexto para que o autor escreva sobre a opressão política que seu país vivenciou. Isso não quer dizer que o livro não seja interessante. É. Mas foge, a meu ver, um pouco à proposta de romance literário. Outros escritores conseguiram unir História e Ficção com maior maestria. Pelo menos do meu ponto de vista.

quinta-feira, 31 de março de 2011

O Ano da Morte de Ricardo Reis - José Saramago.


Sábio é o que se contenta com o espetáculo do mundo. Essa frase de Ricardo Reis define esse interessante personagem que ganha vida nas bem escritas letras de Saramago. O Ano da Morte de Ricardo Reis é um romance ousado, que propõe um pacto ficcional interessantíssimo, em que criador e criatura se encontram em um mundo que só é possível no universo das palavras. Criador é Fernando Pessoa, Ricardo Reis é seu heterônimo, mas a maneira como Saramago brinca com essa sutileza faz com que ambos possam existir de maneira autêntica dentro do universo ficcional. Ricardo Reis, depois de seu exílio no Brasil, volta a Portugal, e ao encontrar um país marcado por conflitos internos e externos, se põe a apreciar o espetáculo do mundo. Na sua prosa poética, Saramago tece reflexões sobre política, sobre literatura, sobre o cotidiano, sobre a vida. Solitário, recebendo visitas ocasionais de Lídia, uma criada de um hotel, da menina Marcenda, por quem se apaixona, e de ninguém menos que Fernando Pessoa, Ricardo Reis reflete a condição do homem no mundo. Romance ao melhor estilo de Saramago.

terça-feira, 8 de março de 2011

Orgulho e Preconceito - Jane Austen.


Uma das principais obras do classicismo inglês, Orgulho e Preconceito, de Jane Austen, é uma obra tão rica que fica difícil esgotá-la em apenas uma resenha de impressões de leitura. Um jovem chega a uma pequena cidade e logo desperta a curiosidade e o interesse das moças e das famílias que pretendem arranjar um bom casamento para suas filhas solteiras. O enredo é perfeito para que se desenrole uma história de amor. No entanto, o leitor se surpreende quando as histórias de amor são apresentadas sem aquelas exacerbações típicas desse tipo de história. A racionalidade dos personagens, além de garantir sua caracterização, confere um objetivismo à obra que não permite que ela se atrase ou se perca, pelo contrário, a torna dinâmica não deixando o leitor largar o livro. Jane Austen nos apresenta um retrato da sociedade daquele tempo, com jovens endinheirados e a mediocridade da vida que levavam, com jantares, bailes, passeios, chás, e o preconceito que mantinha as diferenças de classes bem marcadas. Talvez a construção dos personagens seja o que mais mereça destaque nessa obra de Jane. Mr. Bennet, chefe de uma família com cinco moças, nos poucos diálogos que trava ao longo da obra, tem a ironia sempre (ou quase sempre) presente. Como Mr. Bennet, os demais personagens (princpipalmente os protagonistas Elizabeth e Mr. Darcy) são construídos a partir de suas falas. Não há grandes detalhes do narrador sobre suas personalidades, ao invés disso, são os próprios personagens que se constroem, a medida em que vão travando conversações ao longo das mais de 400 páginas do livro. Eles mesmos se apresentam, se definem, por suas falas e por suas atitudes. As situações vão se descortinando aos poucos, os personagens vão se construindo a partir de suas ações, e a obra a cada página se torna mais interessante. Tão interessante que o cinema a levou para as telas.

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Laços de Família - Clarice Lispector.


A escrita de Clarice Lispector é densa. Talvez por isso, a primeira vez que li Laços de Família (e era a primeira vez que lia Clarice) achei o livro confuso e entediante. Talvez porque o que marca a escrita de Clarice é exatamente essa subjetividade, essa imersão do narrador no íntimo do personagem. Suas estórias não apresentam um grande enredo, ao invés disso o narrador desvenda o interior do personagem, apresentando suas reflexões, seus dilemas, seus dramas, seus questionamentos, sua existência conflituosa. Apesar de seu vocabulário simples, Clarice nos leva por caminhos inquietantes, capazes de nos proporcionar momentos de epifania. Neste livro de contos, os detalhes do cotidiano são desmascarados e revelados sob o olhar atento da escritora.

sábado, 26 de fevereiro de 2011

A Viuvinha - José de Alencar.


O amor e o dinheiro são os ingredientes básicos para os chamados romances urbanos de José de Alencar. A vida da sociedade carioca da metade do século XIX é retratada pela pena do romancista em diversos títulos. Acredito que todos já leram ao menos um dos chamados romances urbanos de Alencar, ainda que tenha sido nos tempos de escola. Alencar nos mostra em seus romances urbanos uma classe caracterizada pelo ócio. O amor surge como pretexto para a ruptura dessa pasmaceira de vida da classe média. Em A Viuvinha essas características aparecem muito claramente. Embora seja um romance de entretenimento, podemos ler uma crítica a essa classe ociosa. O dinheiro e o amor permeiam o enredo, tecem conflitos. Não havendo esses dois ingrediente, não há história, e a vida dos protagonistas cai na banalidade. Em poucas linhas, Alencar pinta a elite de uma sociedade ainda em formação. Leitura interessante.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

A fúria do corpo - João Gilberto Noll.


Sempre que eu ler João Gilberto Noll me lembrarei de um professor que eu adorava na faculdade. Segundo esse professor, Noll pode ser considerado um dos melhores escritores brasileiros da atualidade. Afirmação justa. Já li e reli Noll, e sempre a leitura me prende como se fosse a primeira vez. Tudo na literatura dele é diferente, nada é definido e nada é definitivo. Em A Fúria do Corpo, o personagem que se recusa a dizer seu nome nos convida a percorrer com ele as ruas de um Rio de Janeiro que não o mostrado nas novelas da Rede Globo. No entanto não se trata de uma literatura de crítica social, do tipo literatura engajada. Trata-se da condição do ser humano, essa condição de errante, de estar sempre indo para algum lugar, e ainda assim, com essa sensação de estar sempre perdido. Noll nos prova que se pode fazer literatura (e boa literatura) sem grandes argumentos, afinal, estamos diante de um personagem sem nome, confuso, que mal sabe quem ele é. Um personagem que vaga, divaga, e sujeita o seu corpo às mais diversas situações. Corpo e alma compõe esse personagem que, mesmo sem nome, é de uma complexidade fascinante. O corpo em sua fúria desvenda a natureza humana. Corpo que justamente por não ter nome, pode ser de qualquer um de nós. Corpo que fala, e usa de uma linguagem capaz de chocar o leitor acostumado a uma literatura mais domesticada. Em A Fúria do Corpo, João Gilberto Noll rompe alguns padrões estéticos da literatura, e trabalha uma escrita que consegue expressar a fúria em que se encontra o corpo do narrador. O texto de Noll dentro do panorama da literatura nacional é inovador. Noll brinca com alguns conceitos como a verossimilhança, brinca com a palavra, com a composição dos personagens, e brinca com a literatura, de maneira séria, inteligente e eletrizante.