quarta-feira, 21 de julho de 2010

Das negativas em Memórias Póstumas.


Já muito se escreveu sobre Machado de Assis e sua obra. Hoje me atrevo a resenhar um pouco sobre a minha terceira leitura de Memórias Póstumas de Brás Cubas. Longe de querer esgotar os temas que a obra levanta, quero antes de tudo imprimir a minha impressão nessa terceira leitura, a impressão das negativas. O último capítulo leva esse título: das negativas, mas elas permeiam o livro todo, desde o começo até a última página. Não esqueçamos que as Memórias começam dedicadas ao verme que primeiro roeu as carnes do autor, e terminam reforçando a miséria da vida, quando junto com os saldos negativos, o autor lamenta (ironicamente) não haver tido um filho pra transmitir esse legado mísero. O livro pode ser lido como uma crítica ao ser humano, e de fato ele é, mas nessa minha terceira leitura eu enxerguei além. Criticar o ser humano é tendência em toda a obra do Machado, desde sua fase romântica. Em Memórias Póstumas ele vai além, e critica a própria vida. Na condição de morto e livre da hipocrisia e de outros sentimentos que regem a existência humana, o narrador Brás Cubas nos mostra um quadro ácido da vida. O amor é questionado em figuras como a personagem Marcela, que o amou por quinze meses e onze contos de réis. A vida é questionada em existências como a de Dona Plácida. A vida é pintada sem as cores do romantismo, como quando o filósofo Quincas Borba expõe o Humanitismo ao ver dois cachorros brigarem por um pedaço de osso. A vida é pintada com pinceladas cruéis. E é ela a principal personagem dessas memórias. Desde o começo, o narrador quer falar de vida, e já começa ironizando a sua, na dedicatória do livro. Com sua pena por vezes ácida, por vezes cruel, por vezes assustadoramente real, Machado de Assis nos faz enxergar a vida sem os floreios que costumamos dar a ela para tentar aliviar a nossa condição de reles mortais. A obra, antes de uma crítica a sociedade, ao ser humano, a diferença de classes, ao amor de conveniências, e a tantas outras críticas possíveis dentro do livro, é uma crítica a vida, essa vida que se apresenta tão deliciosa a nós, mas que mesmo assim, está cheia de negativas. A principal delas? A morte.

5 comentários:

Marcelo R. Rezende disse...

Bruno, você é irritantemente perfeito em sua escrita.
Disse exatamente o que eu senti na minha singela - e única - leitura das Memórias Póstumas.

Magno A. disse...

Cara, tu num é somente um rostinho bonito não, como eu imaginei, tu tem muito conteúdo e isso muito me alegra, afinal num é para qualquer um ler Saramago, não é? Adorei ler sobre Machado, texto bem escrito e bem direcionado para aqueles que ainda não leram essa obra genial.
Um grande abraço e agora te sigo aqui no blog.
:)

José Paulo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
José Paulo disse...

E eu concordo plenamente, parabéns pelo texto e pela visão vistas por poucos. E como disse o amigo acima não és só um rostinho bonito.

Fernando disse...

Nossa!
o blog do bRu é dez mesmo,gostei mto,o Patto sempre vai aparecer por aqui p ler esses textos bacanas!

Parabéns amigo!

Bjos