sábado, 31 de julho de 2010

Leopardos irrompem no templo.


Sempre fico com o pé atrás quando se trata de literatura encomendada, dessas que uma editora convoca um número de escritores pra escrever sobre determinado tema. Uma dessas brincadeiras foi a coleção Literatura ou Morte, em que escritores foram convidados a escrever romances sobre outros escritores. A Moacyr Scliar coube o grandioso Franz Kafka. Tarefa difícil, que Moacyr cumpriu com muito talento. Criando uma situação verdadeiramente kafkiana, a estória que ele se propõe a contar prende o leitor da primeira a última página, como todas as obras de Kafka. Inusitadas, as situações vividas por Ratinho, o personagem principal, são tão inquietantes como as vividas pelos personagens de Kafka, quando um dia um homem acorda inseto, ou quando um dia um homem é acusado sem saber exatamente de que. Kafka aparece na estória de Moacyr, mas mais do que retomar o escritor, o autor de Os Leopardos de Kafka brinca justamente com o modelo de narrativa kafkiano. Uma literatura que dialoga com a própria literatura, com um escritor consagrado, com a arte do fazer literário, e que mostra que mesmo sob encomenda, Moacyr é dono de uma narrativa instigante, intrigante, e arrebatadora. Recomendo a leitura. No entanto, antes de irromper no templo dos leopardos, o leitor ganha se conhecer a escrita kafkiana; dessa forma ela será capaz de entender melhor o dialogismo que Scliar propôs em sua literatura de encomenda.

Um comentário:

Marcelo R. Rezende disse...

Depois que eu virei leitor do Juliano Pessanha, comecei a ter um convívio maior com Kafka e, sinceramente, me encanta. Nunca li nada do moço Kafka, mas sabe quando tu já tem certeza da coisa? Pois é. Tentarei ler, mas é quase impossível acompanhar o seu ritmo de leitura Bruno, rs.