quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Sorria, você está sendo filmado.


Primeiramente ele é assustador. Assustador e muito inteligente. 1984, de George Orwell não é um daqueles romances políticos que querem incutir goela abaixo no leitor um determinado ideal. Não. Não se trata de literatura panfletária, longe disso, o que temos é uma visão assustadoramente inteligente da sociedade que estamos construindo. Obviamente que a sociedade descrita no romance de Orwell tem seu exagero típico dos romances de ficção científica, mas as semelhanças com a sociedade na qual estamos inseridos hoje é tão intensa em alguns pontos que vem daí esse desconforto que causa o assombro e o medo. Mas o que a meu ver é mais interessante não é apenas a crítica ou a visão aguçada do ser humano e da sociedade o que se destaca nessa obra. A crítica pela crítica não interessa à literatura. Se o objetivo é apenas criticar aí temos os artigos, os textos críticos, as dissertações, e toda a sorte de gêneros discursivos. À literatura, mais do que a percepção do homem sobre o meio ao qual está inserido, o que importa é o trabalho com a linguagem. Nesse romance temos uma visão inteligente e assustadora de uma sociedade rumo a mais fria crueldade, aliada a uma escrita muito bem trabalhada. Uma escrita que nos assusta quando nos faz pensar que não estamos assim tão longe de sermos vigiados como estão os personagens do romance em frente às teletelas. Uma escrita que nos faz pensar a relação da imprensa com a sociedade, do governo com a sociedade, que nos faz questionar a veracidade das notícias que lemos e ouvimos todos os dias pelos meios de comunicação que julgamos os mais sérios. Não se trata de uma teoria da conspiração, se trata de uma reflexão inteligente sobre a sufocante tecnologia que vem esmagando a humanização do mundo. Afinal, se a tecnologia muito trouxe de contribuição para o mundo, ela também é responsável por alguns “danos”. Não é minha intenção enumerar e discutir as diversas problemáticas que o livro levanta mas é impossível ler 1984 sem deixar de pensar na falta de privacidade que sofremos, na exposição gratuita da nossa vida em sites da internet, de como podemos ser localizados a qualquer hora do dia em qualquer lugar do planeta. Mais uma vez, repito, não estou levantando juízos de valor, afinal, também eu participo de sites que expõe a nossa vida gratuitamente, também eu acredito em muitas das notícias que o telejornal proclama, também eu uso celular e me deixo localizar facilmente onde quer que eu esteja. Mas ao ler o romance de Orwell, não se pode deixar de refletir sobre o rumo de nossas vidas nessa sociedade cada vez mais desumana. Não se lê 1984 sem vir à cabeça a famosa frase: Sorria, você está sendo filmado.

12 comentários:

David Ramos disse...

Gosto muito desse livro, pense que foi escrito em 1948 e o autor colocou a data 1984 só por querer inverter o ano que estava. Gosto muito de ver como os antigos pensavam que seria o futuro, muitas coisas fogem da realidade, por a imagem futurista estraga, mas quando se detem no lado humano, vemos que somos totalmente previsiveis! Um outro livro que me agradou foi de Julio Verne "Paris no Século XX" Mostra Paris no ano de 1960, interessante uma projeção de 100 anos para o futuro!

Adorei a capa do seu livro, a do meu era tão sem gracinha...

David Ramos disse...

Alias 1984 é o ano que você nasceu!!!! Interessante essa visão da coisa!!!

Beijos Bruno

Marcelo R. Rezende disse...

Nunca que você vai resenhar um livro que eu já tenha lido, né?
Tô alucinado e louco atrás de alguém que o tenha, mas não acho. Tud bem, um dia eu o encontro.

Beijo Bru.

suicidedivebomber disse...

opa adorei a resenha e irei procurar assim como ouros q vie aqui, eu ando meio sem tempo pra acompanhar os blogs, mais queria agradecer sua atenção e comentarios é bom sentir como algumas pessoas reagem ao ler meus textos as vz tão intimos e tbm boms entir q pode ser sentimentos tão universais para ser compartilhados :) anotando dicas aqui e ate mais, abração ;)

Markos Queiroz disse...

Eu ja li um trecho desse livro, George Orwell realmente teve uma visão meio que futuristica do mundo de hoje, é uma leitura incrivel mesmo, espero um dia terminar de lê-lo.

^^

Magno A. disse...

você tem uma forma muito particular, curiosa e inteligente de nos passar, com muita clareza, aquilo que teima em por os olhos. Eu Ainda não li este livro - do qual tu falas tão bem - mas só de te ler, me despertou a vontade de comprá-lo e degustar a literatura ácida e envolvente de George Orwel. É sempre um prazer te ler, é sempre bom, como já falei milhoes de vezes, encontrar pessoas inteligentes pela internet.
bjao e continua com esses olhos muito bom pra coisa.
gosto de tu.

Magno.

Anônimo disse...

Muito bacana, Bruno, a proposta do blog. Visite-me.

Marcio Nicolau
www.espacointertextual.blogspot.com

júpiter disse...

Já ouvi falar muito sobre esse livro. Foi muito discutido em algumas aulas da faculdade. Gosto do autor, embora tenha lido apenas a Revolução do bichos.
gostei do blog.

Anônimo disse...

"Letras mal escritas", cara?! Imagine se fossem bem escritas... Parabéns pelo texto, sobretudo, pela sacada: super atual, não é mesmo?

Valeu o comentário no InterTextual. Não deixe de pintar por lá.

Estou te seguindo.

Cris Santos disse...

Olá conterraneo!!
Somos da mesma cidade!

Não lembro de muita coisa de 84 não, pq eu tinha um ano... mas adorei oq escreveu!

Bjokas

Cristiano Contreiras disse...

Um marco literário e tem, até hoje em dia na verve contemporânea, um forte significado. É um livro necessário. Parabéns pelo texto!

Marcelo R. Rezende disse...

Bru, indiquei seu blog lá no meu.
Dá uma passada lá depois.

Beijo