terça-feira, 24 de agosto de 2010

Um mundo de cores na literatura do século XIX.


A arte imita a vida ou a vida imita a arte? No caso de O Cortiço, de Aluísio Azevedo, a arte imita a vida de uma maneira envolvente e sombria. O escritor nos brinda com um mundo miserável em que as leis da natureza ajudam a compor uma das estórias mais fascinantes da literatura brasileira. A estória de uma habitação coletiva traz consigo um mundo cercado de pobreza, de oportunistas, de ambiciosos, de aproveitadores, e traz a tona muitas das misérias humanas. Em uma época em que não havia ainda o cinema e nem a televisão, a leitura de O Cortiço nos brinda com uma visão muito interessante do coletivo. Ao ler o romance parece que estamos diante de uma câmera que da conta de captar o cortiço e seus personagens de um ângulo que tudo mostra, mas que ao mesmo tempo, escolhe alguns personagens e algumas situações para particularizar. É assim a escrita de Aluísio Azevedo nesta obra. Ao mesmo tempo em que da conta do coletivo, consegue particularizar aquilo que é mais substancial pra composição do romance. O resultado é essa sensação de estarmos diante de uma tela de cinema, e de nos deixarmos levar pela câmera, para ver ora o cortiço e toda sua riqueza de personagens e situações, e ora a vida particular desses seres miseráveis, levados pelo instinto humano, rebaixados à condição de animais que agem segundo instintos que lhe são impostos pelo meio. Uma estória sombria. Um mundo sombrio. Sombrio e real. O Cortiço, escrito no século XIX, parece uma quadro que Aluísio pintou. A pintura de um quadro é diferente de uma fotografia. A pintura é subjetiva. E nesse quadro pintado por Aluísio, temos pinceladas que querem retratar da maneira mais real possível o mundo hostil no qual o homem está inserido, mas que, exatamente por ser arte, vêm carregadas de uma subjetividade que mostra o mundo real sob novas cores. E neste quadro sombrio que Aluísio Azevedo soube pintar de maneira esplêndida, se pode ver cores que contrastam com esse ambiente escuro e de podridão. Eu as vejo claramente quando leio. As vejo nas cores vivas da saia de Rita Baiana. As vejo nas cores dos movimentos ligeiros de Firmo. As vejo na palidez do Albino. As vejo no sangue que sai pela primeira vez de Pombinha. Tudo isso contrasta com esse mundo sombrio que ele soube pintar. E você, que cores é capaz de enxergar na leitura de O Cortiço?

9 comentários:

Marcelo R. Rezende disse...

Eu li uma única vez, mas foi o primeiro livro em que eu tive que parar de ler em determinado momento por quase vomitar. Sabe aquela escrita que te envolve de tal jeito que tu pensa realmente sentir o que os outros sentem e vivenciar o ambiente? Eu sei que é meio besta, mas é verdade. Esse livro é bárbaro, apesar de não gostar muito do escritor - o que é controverso, então paro por aqui.

David Ramos disse...

Nossa Bruno, eu li isso a tanto tempo que, era um relato atual... hehehe
Mas sabe que vc me deu uma boa ideia, vou reler! tem 30 anos dessa feita, nem lembro de mais nada!

Abraços meu querido

Anônimo disse...

Olá, parabéns pelo blog, pelos textos e indicações de leitura, muito bom.

Anônimo disse...

Oi,

Visitei todo o seu blog e gostei muito, principalmente por causa do tema, você aborda muitos temas literários (que são uma das minhas paixões)!!
Não sou muito fã do estilo de Aluísio de Azevedo, mas não posso negar sua importância em nosso contexto sócio-cultural.

Abraços...

Unknown disse...

Bruno è o Maumau do fotolog

me passa seu msn e cel

ps tah lindo na foto do fotolog..=D

www.fotolog.com.br/araujomaumau_sph

Magno A. disse...

- Sempre achei Aluízio a frente de sua época, talvez seja isso que mais admiro nele.
- A arte é a certeza de que a vida não basta!

- postei só porque tu queria ler.

desculpa as poucas palavras hoje.
bjos

Magno A. disse...

eu escrevo pra poder me manter vivo. Só assim. Escrevo desde sempre, e se não fosse a escrita, coitado de mim.

oleitor_@hotmail.com
querendo, a gente conversa mais
:D

Winderson Marques disse...

Nossa!! Lendo sua postagem me dei conta que já havia me esquecido de Aluísio Azevedo, mas nunca é tarde para recordar. Acho que vou fazer a releitura da obra, e uma boa pedida.
parabéns pelo blog. Ótimo conteúdo. Estarei acompanhando

fauller disse...

Olá Bruno,
Vi um comentário seu a respeito das minhas fotos em outro blog, vim saber um mais de você, e me deparei o a maravilha do seu blog. Você escreve de forma clara, apaixonada e técnica. Isso é muito bom. Eu me chamo Fauller, sou coreografo de Fortaleza, apaixonado por arquitetura, literatura, fotografia e arte, e adoraria manter contato.
Um abraço!

fauller@hotmail.com