quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Relato de um Certo Oriente - Milton Hatoum.


É algo curioso. Lembro que minha primeira leitura de Relato de um Certo Oriente, de Milton Hatoum, não me causou boa impressão. Achei que fosse um livro que eu jamais leria de novo. Achei confuso, entediante, chato mesmo. E por todos esses motivos, resolvi dar mais uma chance ao livro e o reli dois anos depois. A impressão foi completamente outra. Chego quase ao ponto de arriscar que esse relato confuso e falsamente bagunçado pode ganhar seu lugar na minha lista de livros preferidos. A vida de Emilie, a matriarca de uma família libanesa, é contada sob diversos pontos de vista, pela voz de diversos narradores. O relato é plural, ao mesmo tempo que há uma mulher que o organiza, ele é fruto de várias vozes que dialogam sobre a vida da matriarca. As falas alternadas dos personagens nos apresentam um mundo que já não existe, mas que insiste em ser lembrado. Solidão, morte, fraquezas, ódio, todos são ingredientes deste relato que nada mais é do que a constatação da vida como ela é. Essa segunda leitura do primeiro romance de Hatoum me ganhou. Por isso, continuo afirmando que em apenas uma leitura não se pode esgotar uma obra. Arriscaria dizer que em apenas uma leitura mal chegamos a conhecer a obra verdadeiramente. Então deixemos um pouco algumas coisas de lado e gastemos um tempo com os livros. Eles são capazes de mudar a visão que temos do mundo, da vida, de nós, e como foi o caso dessa releitura, a visão que temos do próprio livro.

4 comentários:

Felipe. disse...

Oi, Bru, tudo bem?
Não me lembro de ter dado uma nova chance a algum livro que não tenha gostado de ler, mas essa sua postagem fez-me pensar que preciso pensar em um livro para reler com mais calma e absorver aquilo que não pude absorver na primeira leitura.
Li "Dois Irmãos" do Milton e até que gostei. Já o leu?

Marcelo R. Rezende disse...

O único livro que li três vezes, mesmo não gostando foi Laços de Família, da Clarice. Não gosto dela, mas ela é genial, minha relação com ela é complicada, brigamos muito, rs.

Palavras Vagabundas disse...

Bruno, eu tenho como regra ler um livro pelo menos duas vezes - tenha eu gostado ou não. Se gostei, posso não gostar mais e se não gostei posso gostar.
Alguns já li várias vezes e a cada vez gosto mais.
Dar uma segunda chance a um livro, certamente é uma regra para um bom leitor. Ás vezes aquele livro que não gostamos foi lido em uma época errada da nossa vida.
bjs
Jussara

fauller disse...

Muito bom ler o seu post, amo essa relação com os livros assim como com as imagens, você sabe, com elas também é preciso fazer o mesmo, olhar duas, três , mais vezes, revisita-las sempre.
Com as pessoas também, não é? Com a vida.

F.